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O que todos deveriam saber?

Rock Jumping

Produzido por: RSA Events

A questão deste pequeno vídeo (8min.) é:
O que deveria ser de conhecimento de todos? Que conhecimento faria um mundo melhor caso todos o possuíssem?
Pense um pouco e nos diga: qual o tipo de conhecimento que todas as pessoas do planeta deveriam partilhar?
(A baixo uma tradução livre dos depoimentos do vídeo)

Shami Chakrabarty:
Confiança e força interior de saber que todos são iguais e que nenhum ser é superior ao outro.

Richard Curtis, fundador do Comic Relief:
Uma metade de mim pensa que todos deveriam ler o livro mais engraçado já escrito: Monty Python’s Big Red Book. Mas a outra metade acha que problemas de política global deveriam ser ensinados, todos os grandes problemas enfrentados pela humanidade como miséria, doenças e conflitos globais, deveriam ser ensinados ás pessoas desde a infancia, para que elas desenvolvam uma capacidade de pensar globalmente e tentar consertar os problemas que nos afligem.

Nicholas Christakis, cientista social:
O que todos deveriam saber é repassar o que elas aprenderam, desde resolver uma equação, escrever um poema, ou consertar um móvel, passar esse conhecimento adiante.

Anna Coote, da New Economics Foundation:
Todos deviam saber que dinheiro não compra amor, felicidade, afeição e bem-estar, e que estamos presos em um ciclo de trabalhar para lucrar, lucrar para comprar, comprar e depois jogar fora, consumindo recursos naturais e destruindo o planeta. devemos pensar mais em como valorizamos o nosso tempo e nosso trabalho, para acharmos melhores formas de usá-los.

Oliver Kamm, The Times:
Todos deviam saber mais sobre sua própria cultura local, de onde ela vem, o que ela gera. Todos deviam ter também uma educação artística livre, e o mais importante, saber sobre literatura e cultura e história que você tem em comum com as pessoas a sua volta, do seu ambiente.

Mathew Taylor, RSA:
O que deveríamos conhecer, é a nós mesmos, e devíamos ser bons nisso. Devíamos saber também no que somos bons, para focar e desenvolver nisso e no que somos ruins para aos poucos melhorar essas qualidades. E devíamos saber também onde procurar ajuda, para srmos melhores ainda no que formos bons e ajuda para superar os desafios do que ainda não fazemos tão bem.

Rebecca Goldstein, autora e filósofa:
A coisa mais maravilhosa sobre a educação é que ela ilumina totalmente a sua mente. Você começa com um certo conhecimento, e o que você aprende é a sair deste seu mundo e olhá-lo objetivamente, questioná-lo, realmente entendê-lo, e saber a diferença do que é objetivo e subjetivo sobre o conhecimento.

Lord Bingham, Chefe de Justiça:
A coisa mais colossalmente importante, é que todos deveriam ter conhecimento, mesmo que razoável de história, de toda ela, e também sobre a política de seu próprio país.

Arcebisbo Desmond Tutu:
Nós devíamos saber que ningúem pode existir isoladamente, e por nosso próprio bem ter uma educação que nos dê capaciade de nos relacionar uns com os outros.

Paul Ormerod, economista:
O que todos deviam saber é a ler, escrever, e a calcular, pois são conhecimantos básicos e se você não puder fazer isso, você estará perdido no mundo de hoje. E também sobre a cultura da sociedade em que vivem, e trasnmitir o conhecimento de uma geração a outra.

Deb Leary, Associação Britânica de Mulheres Empreendedoras:
A habilidade de se projetar de uma forma positiva, e poder dizer “este sou eu, e estas são os feitos que realizei e estas são as coisas que produzi em minha vida.

Tim Jackson, Comissário de Desenvolvimento Sustentável:
O que devíamos entender é a própria  alma humana, pois ela é a natureza que nos define como ser e como ser biológico, como pessoas, e define como interagimos com as outras pessoas, com a sociedade e com o mundo.

Claire Melamed, ActionAid UK:
As crianças na escola, e os jovens na faculdade, eles não sabem como o mundo irá ser. O que eles precisam é de habilidades e conhecimento técnico, e um tipo de habilidade imaginativa, para serem capazes de cooperar com as mudanças dos tempos, analizar as implicações das mudanças em relação ao mundo. Ter essas habilidades pode fazer com que as pessoas lidem melhor com a mudança, para que elas aproveitem o momento, ao invés de simplesmente temer e resistir a ele.

Steve Pinker, teórico cognitivo:
As pessoas deveriam saber que suas prórpias mentes não funcionam muito bem, a memória é falível, e que quando você lembra de algo claramente não significa que aquilo aconteceu de fato. As pessoas são confiantes demais nas suas próprias crenças, e que elas acham certo. As pessoas são muito ruins em probabilidades, pois o que vem a nossa mente mais rapidamente, nós achamos que é o mais provável. Uma das coias que você aprende quando vai para escola é para aprender a pensar melhor do que quando você nasceu, você aprende novos instintos, aprende lógica, e aprende a pesquisar. E a não ser que você aprenda isso direito, você não vai conseguir aprender outras coisas direito.

Jen Lowthrop, RSA:
Educação é totalmente sobre inspirar os estudantes e fazê-los perceber suas próprias aspirações, não importando o que os outros já tenham feito, seus pais e irmãos façam, todas as crianças deviam ter a habilidade e a capacidade de entender que as possibilidades do que eles podem fazer são infinitas.

Robin Dunbar, antropólogo evolucionista:
As três coisas mais importantes na educação ainda são: ler, escrever e calcular, e a matemática é muito importante, pois tudo que fazemos na vida se baseiam nestes conhecimentos. No mundo moderno a matemática está ao nosso redor todo o tempo, e a língua é o que nós conecta com outros os outros seres humanos. E é muito importante perguntar também, o que mais? E aí entra a história, que nos diz como foi no passado e como viemos parar aqui hoje.

Emma Ridgway:
Devíamos estar atentos as mudanças que acontecem em nós, pois as pessoas dizem que não mudamos e isso é uma armadilha. Mudamos pelas circunstâncias, pelo mundo a nossa volta, e pelas experiâncias que acumulamos, nós estamos mudando a todo tempo. Então é muito mais interessante reconhecer essas mudanças e apreoveitá-las, aproveitas esse crescimento. Não importa se errarmos, pois aí podemos tentar de novo, isso significa que podemos aprender a sermos o que queremos, não importando o que é dito sobre nós.

Sunder Ktwala, Sociedade Fabian:
Não estamos falando apenas de focar as pessoas no mercado de trabalho, e sim sobre educar cidadãos, educar as pessoas a fazer parte da sociedade de uma forma ativa, saber o que precisamos saber para ser bons cidadãos. Saber quem somos, nossa história, do nosso país, como chegamos onde chegamos, e o que é necessário saber para ser parte disto de um modo que contribua para o todo.

Nina Power, Roehmapton University:
O único meio de realmente saber sobre uma coisa é se você mesmo tiver a vontade de saber destas coisas, e o que todos deviam saber é que elas podem aprender o que não sabem ainda.

Agora é sua vez, diga: Qual o tipo conhecimento que todos deveriam ter?

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Virtual x Real: o ciberespaço e as transformações da vida cotidiana

Fonte: http://walmarjuca.sites.uol.com.br/

O ciberespaço e sua influência na vida contemporânea

– As transformações das cidades

A cidade é uma localidade. É onde há a organização da vida comum, é “fruto das dinâmicas que compõem a vida cotidiana” . Para se entender o surgimento da internet e as transformações que ela exerce sobre vida contemporânea, é necessário que se entenda o que é uma cidade e como ela se transformou durante o curso histórico e a evolução tecnológica.
“A cidade não é um simples arranjo espacial de ruas, prédios e monumentos, mas uma rede eco-social complexa, interligando diferentes sistemas e agrupamentos socioculturais, onde as inter-relações e as formas de impacto de um sistema sobre outro não podem ser simplesmente determinadas” . A função da cidade variou com o tempo. Com o surgimento do mercado, passou a uma realidade urbana (em oposição a uma realidade rural). Essa configuração sofreu uma grande transformação com a revolução industrial, quando surgiram as cidades com praças, ruas e jardins. As indústrias fizeram uma reviravolta nas características das sociedades, nas relações de trabalho e, portanto, na vida cotidiana.
É no final do século XIX e início do século XX, que surgem as cidades pós-industriais. O universo delas deixou de girar em torno de indústrias e começou a se abrir para o mundo globalizado. O fluxo de informação tornou-se tão intenso que deixou de ser local e passou a ser global.
As cidades também cresceram em espaço físico e a velocidade das transformações e desse crescimento foi – e ainda é – muito rápida. As formas de interação entre as pessoas tiveram que se adaptar às mudanças e caminharam alinhadas aos avanços tecnológicos. Jornal, rádio, televisão e computadores diminuíram os espaços e aumentaram a velocidade da vida urbana, principalmente.
Para Manuel Castells, nas cidades pós-industriais, o tempo não estrutura mais o espaço e sim o espaço – não físico, o espaço do fluxo de informações – estrutura o tempo. As sociedades começaram a se organizar em redes, utilizando a internet como principal ferramenta.
Segundo Martín Barbero, é nesse ponto que as cidades entraram no novo paradigma informacional, centrado no conceito de fluxos, com três fatores principais: a desespacialização, a descentralização e a desurbanização. Há uma transformação espacial ocorrendo nas sociedades modernas. O espaço está virtualizando-se e se transformando em fluxos de informação. Assim, os lugares tornaram-se equivalentes, fazendo com que haja a desvalorização dos locais tidos como centrais. O terceiro fator configura-se pelas transformações no uso das cidades pelos cidadãos. O fluxo e os deslocamentos humanos são feitos dentro do esquema de consumação do trabalho. Assim, as pessoas isolam-se em pequenos espaços privados para fugir do caos urbano.
É nesse contexto que surgem as ciber-cidades. Estas não devem ser pensadas como fatos isolados e substitutivos das cidades. São uma extensão, um complemento da vida urbana, um instrumento do fluxo de informações e da interação entre as pessoas. Diminuem as distâncias físicas, promovem o encontro de culturas diferentes e ainda criam uma nova cultura, baseada em toda essa mistura, velocidade e perda dos contatos físicos. Essa dissociação entre as relações físicas e virtuais não pode ser interpretada, no entanto, como provocadora de um esvaziamento das cidades. Na verdade, as relações do ciberespaço permitem às pessoas uma maior liberdade de movimentação, já que não têm mais de ficar presas em escritórios ou bancos, por exemplo.
O que acontece hoje em dia, é um certo esvaziamento dos espaços públicos e, conseqüentemente, uma perda de contato humano, devido à crise do atual modelo urbano. As cidades virtuais, não são substitutas das cidades reais. Seus principais objetivos devem ser potencializar as relações entre os cidadãos e ocupar os espaços e restabelecer as práticas sociais perdidas, haja vista, que as cidades hoje são globalmente conectadas, mas localmente separadas.

– A mudança dos hábitos cotidianos provocada pela rede

É dentro desse contexto que surge a figura do internauta. A rede de computadores mudou a vida das pessoas e apareceram hábitos próprios do ciberespaço como linguagens e identidades visuais. A Internet assemelha-se a uma cidade. Existem entradas e saídas. A informação circula como uma pessoa circula pelas ruas. Nela, perde-se até mesmo as identidades normalmente utilizadas no mundo físico.
O internauta constrói a sua própria identidade virtual. Torna-se uma informação e navega. Circula pelas salas de bate-papo, ou pelos inúmeros sites existentes. Atualiza seu blog – diário virtual – e espia o que outras pessoas publicam na rede. Descobre culturas diferentes de povos distantes. Mas não há mais distância. A Internet não tem barreiras geográficas.
Não existe controle. Descobrem-se novas tecnologias. Burlam-se os direitos autorais. Fazem-se compras. Também não existe desigualdade. Pelo menos não da forma que se está acostumado a observar. Existe apenas velocidade de circulação. As diferenças surgem entre os que conseguem e os que não conseguem acompanhar essa velocidade.
Na rede não existem donos. Tudo é livre. Ela não é, no entanto, apenas um mundo virtual distante do mundo físico. É uma extensão. Tornou-se os braços que o processo de globalização não tinha pra abraçar todo o planeta. E assim, criou um mundo virtual, onde não existem barreiras.
A Internet surgiu e causa grandes transformações. A falta de controle sobre a rede possibilitou sua expansão de forma muito acelerada, mas essa não foi, no entanto, a característica que tornou a Internet tão atraente. O maior atrativo da rede foi a possibilidade de interação entre o usuário e a informação. Foi aí que as grandes mudanças começaram a aparecer.
Essa interação criou um elo entre o espectador e o meio de comunicação nunca antes concebido. Uma verdadeira revolução que influenciou todas as outras mídias. Nos países mais desenvolvidos, as televisões, por exemplo, não oferecem mais apenas imagens, mas também um sistema de escolha de informação através da internet. Os jornais impressos criaram suas versões on-line.
Essa virtualização de sistemas e instituições é muito importante, mas, a Internet não é uma versão, on-line, das informações do mundo físico. A rede deve ser incorporada ao urbano como algo novo, que abre portas diferentes. Caso contrário, não passará de mais um meio de comunicação e perderá o seu potencial de integração social. A expansão do ciberespaço não se trata de uma reprodução. A educação através de aulas on-line, por exemplo, causa uma revolução muito grande nos antigos processos de ensino, oferece novas e diversas oportunidades. Abre um grande leque para a potencialização do aprendizado.
A mudança dos hábitos cotidianos provocada pela internet é evidente, mas, falta às pessoas ainda uma familiarização com os novos costumes virtuais e, claro, a disseminação do ciberespaço por todas as camadas da população. Isso ainda levará algum tempo, mas é um processo gradual e irreversível.

– Uma geração que cresce com a Internet

Passar muitas horas conectado é um costume novo, que se difundiu principalmente entre as camadas mais jovens da população. A última geração viveu o surgimento da rede, as transformações que ela causou, como a interação entre a informação e o usuário da Internet que muda para sempre os hábitos dos espectadores e da vida cotidiana. Para uma juventude que já nasceu com o ciberespaço em plena fase de expansão, os meios que oferecem a informação de forma unilateral, sem nenhum tipo de interação, torna-se desinteressante.
Mas não só isso. A contemporaneidade é dotada de um excesso de tecnologias digitais e da informatização do trabalho e da cultura. Essa transformação é mais facilmente assimilada pelas gerações mais jovens que cresceram nesse contexto de implementação da era digital. Nem mesmo a cultura que elas consomem são a mesma que se consumia nos anos passados. A pós-modernidade não vive mais de paródias do passado e sim de uma espécie de reciclagem do antigo para o novo mundo digital e virtual.
Existe, hoje, uma discrepância muito maior entre o antigo e o novo, apesar da reciclagem do passado. São as gerações mais jovens que absorvem essas novidades e são, diversas vezes, incompreendidas pelos mais idosos, provando a distância abissal que existe entre o imaginário de dois mundos bastante diferentes. As crianças aprendem antes a digitar que a escrever à mão. O mouse tornou-se um instrumento muito mais útil que o lápis.
Viver a era digital é viver grandes transformações diariamente. É aceitar e compreender uma velocidade muito acima do normal. São as novas gerações, que crescem com a internet, que tem uma maior facilidade de assimilação dos novos hábitos e da nova cultura.

– O ciber-flâneur

O flâneur é uma figura que surgiu durante o século XIX com o crescimento acelerado das grandes metrópoles, que trouxe grandes transformações na vida e nos costumes urbanos. As populações das cidades cresceram desenfreadamente e passaram a aglomerar uma gama de ‘tipos’ muito extensa. Andar pelas ruas era uma ótima oportunidade de observar as diferenças de costumes.
O flâneur tinha o costume de observar as pessoas perdidas na multidão. Os ‘tipos urbanos’ eram objeto de estudo. “Fazer botânica no asfalto” era sua principal atividade. Ele analisava e observava as diferentes espécies que transitavam nas ruas e nas galerias – espécies de shopping centers a céus aberto. Esse hábito de “flanar” não ficou, contudo, restrito aos cidadãos do século retrasado. Foi sofrendo alterações e se adaptando a cada realidade.
A flanerie ainda existe hoje. Principalmente nas grandes metrópoles onde existe uma maior mistura de culturas e raças diferentes. Hoje existe uma fartura muito maior de tipos urbanos. O flâneur trocou as galerias pelos shoppings, onde toda a cidade se encontra e onde existem as principais lojas e praças de alimentação.
Com a chegada da era digital, o flâneur adaptou-se também ao ciberespaço. Ele não faz mais botânica no asfalto e sim “tique-taque nas gravatas do hipertexto” . Expandiu seu campo observativo para os hábitos cibernéticos dos internautas. A internet é um ambiente muito propício para a flânerie. O flâneur navega nas ondas da WWW. Observa os blogs ou as conversas nas salas de bate-papo. Perde-se nas cidades digitais e no labirinto da hipermídia.
Deve-se considerar na ciber-flânerie a característica não-linear da disposição da informação na internet e seu caráter paradoxal e infinito. O flâneur tenta desatar o nó virtual onde uma informação leva a outra informação, como uma encruzilhada que leva a outra encruzilhada. Como na configuração do traçado das cidades em ciclos, a navegação na Internet também dá essa sensação e faz com que o “ciberflânauta” pense estar num mesmo lugar, embora esteja em outro diferente, dando voltas. Isso, para o ciber-flâneur, é um desafio sedutor.
A flanerie é, na verdade, a exaltação da cidade. É a constatação prática do crescimento e das suas transformações urbanas. No meio disso, a população vai sendo inconscientemente alterada. Cultura, estilos de vida, relações pessoais. Assim surgem os tipos diferentes, dentro dos mundos diferentes que compõem as cidades. O flâneur é um desses tipos, sendo sua principal característica a observação e catalogação. E hoje, na era da virtualização, sua mais nova característica é processar a informação hipertextual.

– Weblogs, Chats e Comunidades Virtuais

As comunidades são os locais onde acontecem relações íntimas e privadas de forma espontânea. Um dos critérios para a caracterização de uma comunidade é a união de pessoas sob interesses e objetivos comuns, não possuindo delimitação geográfica. Com o desenvolvimento da Internet, as possibilidades de constituição de comunidades on-line multiplicaram-se.
As novas comunidades virtuais se baseiam numa forma de interação já vista nos anos 80 com os BBSs, através dos quais acessava-se computadores isolados para conferências eletrônicas, mas não eram Internet. Com a expansão da rede, as comunidades virtuais estão ressurgindo e as duas principais formas de interação no ciberespaço são, hoje em dia, os weblogs e os chats.
Os weblogs – ou simplesmente blogs – começaram como uma espécie de diário virtual, com as experiências de navegação do autor. Mas seu conteúdo variou rapidamente e hoje existem os mais diversos blogs sobre os mais variados assuntos. Eles são, na verdade, os novos sites pessoais, com a diferença de que podem ser atualizados de forma mais fácil e constante.
Os chats são espaços virtuais abertos para conversação e diálogo entre os internautas. São os chamados bate-papos que agregam verdadeiras multidões na Internet. Cada um escolhe um nickname (apelido), inventando uma nova identidade para interagir com pessoas de diversos cantos do mundo.
Na verdade, ambos, blogs e chats, são novas expressões das ditas comunidades virtuais (não confundi-las com as cidades virtuais). Eles promovem a integração de grupos com interesses comuns no ciberespaço, caracterizando uma quebra dos padrões tradicionais de relações interpessoais devido a virtualização dessas relações, a amizade virtual é um exemplo.

– Cibercultura: do real ao virtual

É fato evidente a grande transformação da arte e cultura contemporâneas provocadas pelos novos padrões comunicacionais. A arte, na pós-modernidade, estrutura-se no pastiche, ou seja, na apropriação do passado, reinventando-o. Com a chegada da era digital, as novas tecnologias vão trazer infinitas novas possibilidades para a reapropriação de estilos e a arte vai utilizar bastante da comunicação interativa e dos recursos de colagens de informação.
Os avanços tecnológicos seguiram a linha dos avanços sociais, haja vista que ambos se baseiam em influências mútuas. Dessa forma, na era digital, o mundo sofre um processo de desmaterialização, de virtualização. É o que acontece com a cibercultura que vai agregar os valores dessa civilização virtual, principalmente do fluxo de informações.
“Toda arte é um processo de virtualização, já que ela procura trazer ao sensível, problematizações do real e alargar os limites do possível. No contexto da arte eletrônica contemporânea, esse processo atinge uma radicalização sem precedentes, pois a arte continua a ser virtualização de uma virtualização, só que agora sob uma forma puramente digital, utilizando-se de uma tecnologia também virtualizante (digital)” . Esse é um fato muito interessante e primordial da ciber-arte, pois, com a digitalização do mundo, as relações entre objeto e imagem são radicalmente transformadas.
A grande mudança está no fato de que as imagens digitais não necessitam mais do objeto primordial. Elas são criadas a partir dos cálculos matemáticos que compõem a linguagem da informática. A relação entre o artista e o objeto torna-se abstrata e a arte simbólica e imaginária. Isso constitui, no entanto, o paradoxo de virtualizar o mundo, apesar de depender simbolicamente do meio físico.
Outra característica da ciber-arte está no uso da interatividade que advém da tensão entre o interagente e o seu reflexo que a obra de arte lhe devolve como experiência. São exemplos importantes da ciber-arte as esculturas virtuais, a arte halográfica e informática (com imagens, home pages, arte ASCII) e a vídeo-arte. A estética tecno toma conta na música com uma fusão de futurismo, minimalismo e ritmos com impulsos tribais; e no design com o uso expressivo de imagens digitais e 3D, paletas multicoloridas e vibrantes, efeitos de iluminação que lembram as festas raves e temáticas psicodélicas que remetem às capas de discos de rock progressivo.
A ciber-arte é o imaginário da cibercultura, utilizando-se da hibridização do ciberespaço e da realidade, além da interatividade dos novos meios de comunicação. O ciber-artista faz a colagem de informações (samplings) e a faz circular. Ele deixa de ser o pop-star da cultura de massa e se torna apenas um editor. O ciberespaço é o local propício para a disseminação da arte eletrônica por ser um espaço virtual que permite uma conexão e interação em tempo real.
A virtualização do mundo provocou as transformações dos hábitos cotidianos e é uma característica-base da vida contemporânea. Não se pode mais pensar o mundo sem a Internet e suas ferramentas. A cibercultura é a cultura transformada e adaptada a essas mudanças do mundo real. Mas claro, as raízes culturais não podem ser esquecidas, elas devem ser reapropriadas e reinseridas na nova realidade digital.

Mudanças caóticas – a Internet não chega para todos: Os contrastes do mundo virtual e do mundo físico

É difícil imaginar a assimilação do ciberespaço pela população, principalmente num mundo excludente como o atual. Como se pensar em rede mundial de computadores num país repleto de favelas e com grande parte da população analfabeta? A consolidação da Internet ainda é um sonho distante, principalmente em países do continente africano cheios de guerras civis e altas taxas de mortalidade infantil.
Mesmo na internet existem subdivisões baseadas no acesso e uso de tecnologias. Esse, no entanto, não é o principal problema. O principal impedimento da democracia eletrônica está no grande número de pessoas desconectadas e incapacitadas para assimilar o ciberespaço e suas transformações.
Pensar numa rede mundial de computadores seria um ato falho, porque essa rede não tem condições, ainda, de se estender por todo o globo. As disparidades das relações da população com a tecnologia, entre os países ricos e os países pobres são muito grandes. O ciberespaço vive dessas relações e do desenvolvimento tecnológico, mas tem seu processo expansivo desacelerado devido a essas disparidades.

– A Internet para todos?

As previsões sobre o futuro da internet são feitas, em sua maioria, num tom profético que anuncia o fim dos meios tradicionais de comunicação, como o jornal e a televisão. Mas o grande problema do porvir do ciberespaço está não na sua capacidade de expansão, já provada anteriormente, e sim na diminuição das diferenças sociais e econômicas do mundo físico.
Pensando em longo prazo, caso essas transformações ocorram, pode-se imaginar, a partir do rumo do desenvolvimento da Internet, que ela irá englobar e transformar um número cada vez maior de meios de comunicação. Outra possibilidade seria uma desburocratização dos poderes públicos, eliminando intermediários, e uma maior transparência nas administrações. A rede também tem potencial para abrir os governos para uma participação mais ativa dos cidadãos no controle e na distribuição do poder.
Para que isso aconteça, é necessário não somente a presença de equipamentos eletrônicos com fácil acesso à população, mas também uma reformulação das mentalidades políticas que incentivem uma maior assimilação da virtualização do mundo pelo povo. “Enfatizo (…) que esse uso do ciberespaço não deriva automaticamente da presença de equipamentos materiais, mas que exige igualmente uma profunda reforma das mentalidades dos modos de organização e dos hábitos políticos” .
Imaginar um possível acesso de toda a população mundial à Internet é difícil, mas seria a forma ideal para o desenvolvimento da rede e não da forma desigual como ocorre hoje. O ciberespaço causa grandes mudanças na vida cotidiana, mas depende das mudanças do mundo real para o desenvolvimento do processo de virtualização. As mudanças causadas pela rede num mundo desigual, só aumentam as diferenças das populações. É necessário, para um completo desenvolvimento do mundo digital, que se acabem com as diferenças sociais. É uma pena, no entanto, que esse sonho do virtual e do real pareça ainda tão distante.

BIBLIOGRAFIA

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LEMOS, André. Arte Eletrônica e Cibercultura. http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/
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THEOPHILO, Jan. Alteregos ambulantes na grande rede. www.no.com.br
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LEVY, Pierre. O Ciberespaço, a cidade e a democracia eletrônica.

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Linguagens Contemporâneas:

Design e Mobilidade

A disciplina de Linguagens Contemporâneas, do curso de Design da UNESP de Bauru, ministrado pelo Professor Dorival Campos Rossi, é o ponto de partida para uma investigação sobre a cibercultura, a Net Art e todas as outras formas de expressão hipertextual, seja ela real ou virtual.
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